31/12/2007

Matança: quase 40 mulheres assassinadas em 2007 na capital de Mato Grosso

Em 2007, pelo menos 37 mulheres foram assassinadas na Baixada Cuiabana. No ano passado foram 22. Algumas morreram pelas mãos de pessoas que confiavam, maridos, ex-namorados, enfim, àquelas com quem tiveram ou mantinham relações. Em Mato Grosso o número de vítimas dos chamados crimes passionais chegou a 83, de acordo com dados da Gerência de Estatísticas e Informações da Polícia Judiciária Civil.

São fartas as pesquisas que revelam índices assustadores referentes à violência que as mulheres sofrem no âmbito do lar. A cada 100 que foram vítimas de homicídio, 70% se enquadram nesse perfil. Outro detalhe é o fato de que boa parte deles foi cometido dentro de suas casas, quase sempre, com meios cruéis.

A dona de casa Oneza de Azevedo Lima, 43, é a mais recente vítima dessa estatística e se enquadra exatamente na descrição feita acima. Ela foi morta com 14 golpes de faca na manhã do dia 18 de dezembro, na região do Jardim Vitória, na Morada da Serra, em Cuiabá, onde morava com o filho. Inconformado com o fim do relacionamento, o ex-marido Argemiro Castro Silva, 49, a matou após tentar reatar o casamento. A mulher foi morta com golpes que atingiram do pescoço à região genital.

Preso horas depois e levado para Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) ele se mostrou arrependido. Disse que amava muito a ex-esposa e não aceitava a separação. Eles estavam casados por mais de 10 anos e separados havia seis meses.

Outra vítima trata-se da jovem Jéssica da Silva, 16, assassinada grávida de 4 meses por seu marido Gilmar Souza Silva, 33, em 22 de março deste ano. O corpo foi abandonado em uma área de difícil acesso no bairro Coxipó do Ouro, em Cuiabá. Ela teve o pé direito decepado e um pedaço de madeira cravado no coração. Gilmar foi preso no bairro Barreiro Branco, em Cuiabá, cerca de 20 dias depois. Declarou estar sendo vítima de ameaças oriundas do ciúme doentio da jovem.

Mudança na legislação - Com a implantação da Lei Maria da Penha - que entrou em vigor em 22 de setembro do ano passado -os casos de violência doméstica -frequentemente "acobertados"até então por uma legislação falha - começaram a pipocar em todo o país. A Lei alterou o Código Penal em favor das mulheres vítimas de violência doméstica e sexual.

Ela estabeleceu o conceito de violência doméstica contra a mulher. Determina que a violência doméstica contra a mulher independe de orientação sexual e ainda previu o atendimento específico para o atendimento pela autoridade policial nos casos de violência doméstica contra a mulher. Em Mato Grosso, cada um dos Centros Integrados de Segurança e Cidadania (Cisc) possuem um núcleo de atendimento para esses casos, além de uma delegacia especializada.

Desde sua entrada em vigor, o agressor passou a ser preso em flagrante ou preventivamente, e o tempo máximo de permanência na prisão aumentou de um para três anos. Um exemplo pode ser citado no caso do advogado criminalista Aroldo Fernandes da Luz, 29, preso na garagem do prédio onde trabalhava por continuar ameaçando a ex-namorada, vítima de agressão que o denunciou. A prisão foi decretada pela juíza Amini Haddad Campos. Ele responde a um inquérito policial de lesão corporal grave contra a ex-namorada C.S.Q, 29, crime praticado em 10 de janeiro de 2005. Aroldo já foi denunciado (acusado formalmente) do crime.

Outro caso a ser citado é do ex-presidiário Aloísio Amorim, 25. Ele foi preso no dia 18, depois sequestrar pela quarta vez sua ex-esposa. O casal estava em motel de Cuiabá. Ele sequestrou a mulher em frente a uma loja de móveis. O casal está separado há mais de três anos e tem uma filha pequena. Aloísio é reincidente e estava em condicional pelo crime de roubo, apesar de não ter cumprido nem a metade da pena de cinco anos que foi condenado.

A professora, socióloga e pesquisadora Heleieth Iara Bongiovani Saffiati, avaliou que a mudança na legislação não traz a igualdade de gêneros, mas acirra ainda mais os conflitos familiares.

Política de prevenção, conscientização são fundamentais para mudança real de comportamento.

O livro "Direitos Humanos das Mulheres", escrito pela magistrada Amini Haddad Campos e pela promotora Lindinalva Rodrigues Corrêa, revela que antes da legislação, a cada 100 casos de crimes contra a mulher, 70 agressores já tinham histórico de violência contra a companheira ou namorada. Dos 3,215 mil processos em andamento sob a responsabilidade da juíza Amini Haddad Campos, na 1º Vara Especializada em Violência Contra a Mulher, 35 são referentes a réus que reincidiram.

27/12/2007

O que aconteceu com os evangélicos?

Postado por Pastor Augustus Nicodemus

Quando Paulo Romeiro escreveu Evangélicos em Crise em meados da década de 90, ele apenas tocou em uma das muitas áreas em que o evangelicalismo havia entrado em colapso no Brasil: a sua incapacidade de deter a proliferação de teologias oriundas de uma visão pragmática e mercantilista de igreja, no caso, a teologia da prosperidade.

Fica cada vez mais claro que os evangélicos estão atualmente numa crise muito maior, a começar pela dificuldade – para não falar da impossibilidade – de ao menos se definir hoje o que é ser evangélico.Até pouco tempo, "evangélico" indicava vagamente aqueles protestantes de entre todas as denominações – presbiterianos, batistas, metodistas, anglicanos, luteranos e pentecostais, entre outros, que consideravam a Bíblia como Palavra de Deus, autoritativa e infalível, que eram conservadores no culto e nos padrões morais, e que tinham visão missionária.

Hoje, no Brasil, o termo não tem mais essa conotação. Ele tem sido usado para se referir a todos os que estão dentro do cristianismo em geral e que não são católicos romanos: protestantes históricos, pentecostais, neopentecostais, igrejas emergentes, comunidades dos mais variados tipos, etc.

É evidente a crise gigantesca em que os evangélicos se encontram: a falta de rumos teológicos definidos, a multiplicidade de teologias divergentes, a falta de uma liderança com autoridade moral e espiritual, a derrocada doutrinária e moral de líderes que um dia foram reconhecidos como referência, o surgimentos de líderes totalitários que se auto-denominam pastores, bispos e apóstolos, a conquista gradual das escolas de teologia pelo liberalismo teológico, a falta de padrões morais pelos quais ao menos exercer a disciplina eclesiástica, a depreciação da doutrina, a mercantilização de várias editoras evangélicas que passaram a publicar livros de linha não evangélica, e o surgimento das chamadas igrejas emergentes.

A lista é muito maior e falta espaço nesse post.Recentemente um amigo meu, respeitado professor de teologia, me disse que o evangelicalismo brasileiro está na UTI. Concordo com ele. A crise, contudo, tem suas raízes na própria natureza do evangelicalismo, desde o seu nascedouro. Há opiniões divergentes sobre quando o moderno evangelicalismo nasceu. Aqui, adoto a opinião de que ele nasceu, como movimento, nas décadas de 50 e 60 nos Estados Unidos.

Era uma ala dentro do movimento fundamentalista que desejava preservar os pontos básicos da fé (veja meu post sobre Fundamentalismo), mas que não compartilhava do espírito separatista e exclusivista da primeira geração de fundamentalistas. A princípio chamado de "neo-fundamentalismo", o evangelicalismo entendia que deveria procurar uma interação maior com questões sociais e, acima de tudo, obter respeitabilidade acadêmica mediante o diálogo com a ciência e com outras linhas dentro da cristandade, sem abrir mão dos "fundamentos".

Eles queriam se livrar da pecha de intransigentes, fechados, bitolados e obscurantistas, ao mesmo tempo em que mantinham doutrinas como a inerrância das Escrituras, a crença em milagres, a morte vicária de Cristo, sua divindade e sua ressurreição de entre os mortos. Eram, por assim dizer, fundamentalistas esclarecidos, que queriam ser reconhecidos academicamente, acima de tudo.

O que aconteceu para o evangelicalismo chegasse ao ponto crítico em que se encontra hoje? Tenho algumas idéias que coloco em seguida.

1. O diálogo com liberais, pentecostais, neo-pentecostais e outras linhas sem que os pressupostos doutrinários tivessem sido traçados com clareza. Acredito que podemos dialogar e aprender com quem não é reformado. Contudo, o diálogo deve ser buscado dentro de pressupostos claros e com fronteiras claras. Hoje, os evangélicos têm dificuldades em delinear as fronteiras do verdadeiro cristianismo e de manter as portas fechadas para heresias.

2. A adoção do não-exclusivismo como princípio. Ao fazer isso, os evangélicos começaram a abrir a porta para a pluralidade doutrinária, a multiplicidade de eclesiologias e o relativismo moral, sem que tivessem qualquer instrumento poderoso o suficiente para ao menos identificar o que estivesse em desacordo com os pontos cruciais.

3. O abandono gradual da aderência a esses pontos cruciais com o objetivo de alargar a base de comunhão com outras linhas dentro da cristandade. Com a redução cada vez maior do que era básico, ficou cada vez mais ampla a definição de evangélico, a ponto de perder em grande parte seu significado original.

4. O abandono da confessionalidade, dos grandes credos e confissões do passado, que moldaram a fé histórica da Igreja com sua interpretação das Escrituras. Não basta dizer que a Bíblia não tem erros. Arminianos, pelagianos, socinianos, unitários, eteroteólogos, neopentecostais – todos afirmarão isso. O problema está na interpretação que fazem dessa Bíblia inerrante. Ao jogar fora séculos de tradição interpretativa e teológica, os evangélicos ficaram vulneráveis a toda nova interpretação, como a teologia relacional, a teologia da prosperidade, a nova perspectiva sobre Paulo, etc.

5. A mudança de uma orientação teológica mais agostiniana e reformada para uma orientação mais arminiana. Isso possibilitou a entrada no meio evangélico de teologias como a teologia relacional, que é filhote do arminianismo. Permitiu também a invasão da espiritualidade mística centrada na experiência, fruto do reavivalismo pelagiano de Charles Finney. Essa mudança também trouxe a depreciação da doutrina em favor do pragmatismo, e também o antropocentrismo no culto, na igreja e na missão, tudo isso produto da visão arminiana da centralidade do homem.

Mas talvez o pior de tudo foi a perda da cosmovisão reformada, que serviria de base para uma visão abrangente da cultura, ciência e sociedade, a partir da soberania de Deus sobre todas as áreas da vida. Sem isso, o evangelicalismo mais e mais tem se inclinado a ações isoladas e fragmentadas na área social e política, às vezes sem conexão com a visão cristã de mundo.6. Por fim, a busca de respeitabilidade acadêmica, não somente da parte dos demais cristãos, mas especialmente da parte da academia secular.

Essa busca, que por vezes tem esquecido que o opróbrio da cruz é mais aceitável diante de Deus do que o louvor humano, acabou fazendo com que o evangelicalismo, em muitos lugares, submetesse suas instituições teológicas aos padrões educacionais do Estado e das universidades, padrões esses comprometidos metodológica, filosófica e pedagogicamente com a visão humanística e secularizada do mundo, em que as Escrituras e o cristianismo são estudados de uma perspectiva não cristã.

Abriu-se a porta para o velho liberalismo.Não há saída fácil para essa crise. Contudo, vejo a fé reformada como uma alternativa possível e viável para a igreja evangélica brasileira, desde que se mantenha fiel às grandes doutrinas da graça e aos lemas da Reforma, e que faça certo aquilo que os evangélicos não foram capazes de fazer:

(1) dialogar e interagir com a diversidade delineando com clareza as fronteiras do cristianismo; (2) abandonar o inclusivismo generalizado e adotar um exclusivismo inteligente e sensível;
(3) voltar a valorizar a doutrina, especialmente os pontos fundamentais da fé cristã expressos nos credos e confissões, que moldaram os inícios do movimento evangélico.

Talvez e só talvez assim possamos delinear com mais clareza os contornos da face evangélica em nosso país; pois como está escrito: "todo reino dividido contra si mesmo não subsistirá"

22/12/2007

Associação de Jornais condena censura à imprensa imposta por juiz de MS

NOTA À IMPRENSA

A Associação Nacional de Jornais (ANJ) lamenta e condena mais um ato de censura prévia, em afronta à Constituição, cometido pelo Poder Judiciário. Desta vez foi o juiz substituto Adriano da Rosa Bastos, da 1ª Vara Criminal de Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Em ofício encaminhado a 12 veículos de comunicação do estado, o juiz proibiu a divulgação de “qualquer informação” relativa a ação penal contra acusado de estupro, sob a alegação de que o processo está sob segredo de Justiça.

O segredo de Justiça diz respeito às partes de um processo e aos agentes públicos nele envolvidos. Ministros do Supremo Tribunal Federal já se pronunciaram a respeito, deixando claro que jornalistas e meios de comunicação que têm acesso a uma informação, mesmo oriunda de processo sob segredo de Justiça, não podem ser proibidos de divulgá-la. A proibição é censura prévia.

No caso do Mato Grosso do Sul, houve ampla e geral censura prévia, dado o grande número de veículos atingidos. É uma violência contra a Constituição e à sociedade, privada do seu direito de ser livremente informada. Preocupa à ANJ que a censura tenha voltado ao país sob os auspícios do Poder Judiciário, principal guardião dos princípios constitucionais.

O que se espera é uma ação decidida do próprio Poder Judiciário para instar todos os juízes, de todas as instâncias, a não mais praticarem a revoltante censura prévia.

Brasília, 21 de dezembro de 2007
Júlio César Mesquita
Vice-Presidente da ANJ
Responsável pelo Comitê de Liberdade de Expressão

05/12/2007

Péssimo em leitura, ruim em matemática

Por Dorjival Silva


Desempenho no Pisa coloca Brasil no nível 1 de aprendizagem numa escala que varia de 1 a 6

O Brasil piorou seu desempenho em leitura, mas foi um dos países que mais melhoraram em matemática no Programa de Avaliação Internacional de Estudantes (Pisa), de 2006.

O exame, considerado o mais importante do mundo em educação, é realizado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) a cada três anos. Cerca de 400 mil alunos de 15 anos, de 57 países, fizeram a última prova. Os resultados foram divulgados ontem em Bruxelas - na semana passada, a entidade havia liberado apenas dados preliminares do exame de ciência.

A pontuação dos alunos brasileiros ficou em 393 e 370, em leitura e matemática, respectivamente. A nota máxima registrada no Pisa foi de 707,9. Esse desempenho faz com que o País não conseguisse passar do nível 1 de aprendizagem - numa escala que varia de 1 a 6, sendo 1 o pior - em nenhuma das três áreas.

Isso quer dizer que os alunos conseguem apenas localizar informações explícitas e não são capazes de fazer comparações, estabelecer conexões ou interpretar textos. Em matemática, eles não podem sequer resolver problemas simples.Por causa disso, mesmo com a melhora, o Brasil ainda está entre os piores do mundo em matemática.

O ranking mostra os brasileiros na 54ª posição, atrás dos cinco outros países latinos que participaram da prova e melhor apenas que Tunísia, Catar e Quirguistão. Em leitura, o País tem a melhor colocação das três áreas avaliadas, ficando na 49ª posição. Nossos estudantes superaram os da Argentina e da Colômbia.

O ranking de ciência mostra o Brasil em 52º lugar. A campeã do Pisa, assim como ocorreu em 2000 e em 2003, é a Finlândia. A nação escandinava é a primeira colocada no ranking de ciência e a segunda em leitura e em matemática. Os países vencedores dessas duas listas, Coréia e Taiwan, respectivamente, aparecem abaixo da 10ª colocação nos outros rankings. A relação inclui países membros da OCDE e convidados (como o Brasil). Eles representam 90% da economia mundial.

Não há nações africanas ou da América Central, por exemplo. ¨Qualidade não cai do céu. É algo que exigirá muito esforço do País por muito tempo. Sabemos o que nos separa do mundo desenvolvido¨, disse ontem o ministro da Educação, Fernando Haddad. Pela primeira vez, foram divulgados também os resultados do Pisa por estado brasileiro. No Brasil, 9.295 alunos de escolas públicas e particulares fizeram a prova em 2006.

Espaço para crescer

A melhora do Brasil em matemática é destacada no relatório do Pisa. Foram 13 pontos de diferença com relação a 2003; só México, Indonésia e Grécia avançaram mais.

Quem elevou a nota do País foram os estudantes que estavam nos piores níveis de aprendizagem e que melhoraram desde 2003. ¨São eles que tinham mais espaço para crescer e isso é importante que tenha acontecido¨, diz o especialista em avaliação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) José Francisco Soares.

Para o presidente da Sociedade Brasileira de Matemática, João Lucas Marques Barbosa, o resultado pode estar relacionado à proliferação das olimpíadas de matemática pelo País. Há três anos, foi criada uma competição nacional para estudantes de escolas públicas. ¨Esses eventos descobrem talentos e mudam a idéia de que matemática é um bicho-papão, principalmente entre as crianças mais pobres¨, diz Barbosa.

Para ele, efeitos maiores serão sentidos em cerca de dez anos. Em leitura, ocorreu o oposto que em matemática. Os melhores alunos do País aumentaram suas notas em 23 pontos, enquanto os que já eram ruins caíram em mais de 30 pontos. O exame de leitura da OCDE analisa não só a habilidade de ler e escrever, mas também de interpretar textos, usar a escrita em situações cotidianas, opinar.

Uma das questões falava sobre grafite e o estudante deveria dizer o que achava do texto, comentar seu estilo e analisar. ¨Nosso resultado é um reflexo da falta do professor-leitor¨, diz a professora da rede pública do Rio e doutoranda da Universidade de Brasília (UnB) Zóia Preste. Segundo números do Ministério da Educação (MEC), só 26% das escolas brasileiras têm bibliotecas.

O Pisa foi aplicado em todos os países entre março e novembro do ano passado. Foram duas horas de prova, com mais de 40% das questões dissertativas. Além das provas, os adolescentes respondem a questionários socioeconômicos e os diretores descrevem a estrutura da escola. Os países podem optar por participar com todos os seus alunos ou, como o Brasil, utilizar uma amostra do total.

Segundo a OCDE, os 400 mil que fizeram o exame representam 20 milhões de alunos no mundo. Pela primeira vez, o Pisa fechou um ciclo, o que fortalece as informações estatísticas e permite comparações. Isso porque a cada ano o exame foca em uma das áreas - em 2000, o foco foi leitura; em 2003, matemática; e, em 2006, em ciências. O exame de 2009 voltará a enfatizar leitura, o que significa que haverá mais perguntas e que os resultados serão mais detalhados nessa área.

Exemplo

¨O Brasil é um exemplo para outros países, porque vem melhorando seus resultados¨, disse Andreas Schleicher, que é diretor da divisão de indicadores e análise da diretoria de educação da OCDE. ¨Trata-se de um dos poucos países que apresentou avanços nas provas de leitura e matemática.¨

Para ele, o governo brasileiro foi ¨corajoso¨ ao se juntar ao rol de países avaliados pelo Pisa. ¨Os brasileiros estão sendo comparados lado a lado com vários países mais desenvolvidos¨, diz. ¨Em vez de dizer que se trata de uma avaliação injusta, ser comparado com o Japão, por exemplo, o Brasil adotou um a postura pragmática ao afirmar - ´ora, estamos competindo globalmente´.¨Schleicher elogiou o fato de o governo ter criado um sistema nacional de avaliação e os esforços para matricular um maior número de crianças nas escolas.

O pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Sergei Soares também foi otimista. ¨Só o fato de não ter caído já é um bom resultado, porque o Brasil incluiu um número muito grande de alunos nos últimos anos¨, diz. Hoje, o País tem quase 100% dos alunos de 7 a 14 anos na escola. Um dos desempenhos que chamaram atenção dos educadores brasileiros é o do Chile, que vinha implementando mudanças em seus sistema educacional, mas não havia melhorado em rankings internacionais até então.

Neste ano, o Chile aparece como o melhor país da América Latina nas três áreas do Pisa. Em leitura, está dez posições acima do Brasil. ¨Não temos muito o que aprender com Taiwan ou Hong Kong, que têm educação com base em muita competição, e sim com o Chile, que aumentou seus investimentos na área e ampliou o tempo dos alunos nas escolas¨, diz Soares, da UFMG.

Sergipe bate São Paulo em avaliação internacional

Estado mais rico do País, São Paulo não consegue refletir seu poderio econômico na educação. Os resultados do Programa Internacional de Avaliação por Aluno (Pisa) de 2006, divulgados pelo Ministério da Educação (MEC), mostram o Estado com médias piores do que as nacionais em leitura e ciências, e igual à média brasileira em matemática. Mais do que isso, São Paulo perde para Estados mais pobres, como Paraíba e Sergipe. Reunindo, sozinho, cerca de 20% dos alunos do País, a média paulista, na verdade, chega a puxar para baixo a média nacional, acusa o MEC.

¨Era de se esperar que as médias de São Paulo ajudassem a puxar os resultados brasileiros para cima, mas não foi o que aconteceu¨, disse o ministro da Educação, Fernando Haddad. ¨Se é verdade que os Estados mais ricos deveriam ter um desempenho melhor, há exceções. Há Estados pobres com resultados melhores que os ricos¨. Em São Paulo, fizeram o Pisa 1.067 estudantes, o equivalente a 11% da amostra nacional.

Mas, na conta final da média nacional, o peso de um aluno paulista é maior do que de todos os outros Estados, justamente porque a amostra representa 20% de todos os estudantes da educação básica no País. Com um dos menores Produtos Internos Brutos do Brasil - 0,7% do PIB nacional, contra os 30,9% de São Paulo - o Estado de Sergipe ganhou fácil nas três áreas do Pisa. Em ciências, fez 402 pontos contra 385 de São Paulo. Em matemática, 385 contra 370 dos alunos paulistas. E em leitura, 408 contra 392. São Paulo gasta por ano, em média, R$ 600 a mais por aluno da educação básica que Sergipe.

Margens de erro

A secretária estadual de São Paulo, Maria Helena Guimarães de Castro, rejeita a idéia que de o Estado fez com que o Brasil se saísse mal no Pisa. Segundo ela, a proporção de alunos paulistas não bastaria para definir a nota brasileira. Além disso, ela estranhou as margens de erro dos resultados, que são bem superiores em outros Estados, se comparadas às de São Paulo.“Quanto menos alunos fazem a prova maior a margem de erro”, diz Maria Helena, que foi presidente do Instituto Nacional de Pesquisas e Estudos Educacionais do MEC (Inep) quando o Brasil fez o primeiro Pisa, em 2000.

A secretária é especialista em avaliação e foi quem decidiu, no fim dos anos 90, a participação do País no exame da OCDE. As margens de erro dos resultados paulistas não passam de 6,2, enquanto no Distrito Federal, chegam a 20,8. Sergipe teve margem de erro que variou de 14 a 16 pontos. Maria Helena, no entanto, reconhece que o Estado precisa melhorar. “O grande desafio de São Paulo é a melhoria da qualidade”, disse.

O MEC não se arrisca a fazer uma avaliação sobre os resultados paulistas, mas o atual presidente do Inep, Reynaldo Fernandes, lembra que o Estado também não está nos primeiros lugares no Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb). Em 2005, o Estado apareceu em 7º lugar em português e 10º em matemática na avaliação da 8ª série - equivalente ao Pisa, que faz a prova com estudantes de 15 anos. Campeão nacionalPrimeiro lugar nas três áreas avaliadas, o Distrito Federal, tem médias acima de 400 pontos.

Ainda sim, não passaria da 40ª posição entre 57 países. Sua melhor pontuação, em ciências, o levaria a ficar um pouco acima do Chile e abaixo de Israel. Ainda assim, o DF está muito a frente do Maranhão, o último colocado na lista. Em matemática, a média maranhense é 100 pontos abaixo da nacional. Em português, não alcança os 300 pontos. Se fosse país, o Maranhão perderia com alguma folga para o Quirguistão, último colocado em todas as três áreas.

Dorjival Silva - Jornalista DRT/MT 1.128, teólogo e Pedagogo. Email: dorjisilva@hotmail.com com informações da Agência Estado e o Estado de S.Paulo

03/12/2007

Professor não está preparado para alunos deficientes

Por Dorjival Silva

Pesquisa do Ibope mostra que 96% deles se dizem sem condições e 87% afirmam nunca ter recebido treinamento

No caminho para promover a inclusão de alunos especiais na rede pública brasileira dentro das escolas regulares, como defende o Ministério da Educação (MEC) e grupos de especialistas da área, há uma barreira essencial a ser superada: o treinamento do professor para receber e ensinar esse estudante.

Pesquisa Ibope encomendada pela Fundação Victor Civita, obtida com exclusividade pela reportagem, revela que 96% dos professores da rede pública se dizem despreparados para a inclusão de alunos especiais e 87% deles nunca receberam nenhum treinamento para isso. Foram ouvidos 500 docentes, em uma amostra de todas as capitais. “Há experiências maravilhosas de docentes que promovem a inclusão.

Só que ainda temos redes de ensino e até escolas que não oferecem capacitação”, afirma Regina Scarpa, pedagoga da Fundação Victor Civita. Ela explica que o mais importante é garantir que o aluno especial aprenda os conteúdos do ensino fundamental. “Para isso o professor tem de estar preparado.”

Nesse quesito, o conceito de inclusão precisa ser bem definido, e inclui muito mais do que manter o aluno dentro da sala de aula. O tema tem recebido maior atenção de entidades não-governamentais que trabalham com a questão, inclusive pela proximidade de uma data especial: amanhã se comemora o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, data escolhida pela Organização das Nações Unidas (ONU) para conscientizar a população do mundo a respeito do problema.

Em São Paulo, dos 250 mil professores da rede estadual de ensino, apenas 13.992 receberam capacitação para isso.

A técnica do Serviço de Educação Especial da Secretaria Estadual de Educação, Marlene Machado, diz que o número é pequeno porque a capacitação é mais focada nos professores-coordenadores. “Eles são multiplicadores nas escolas.”

Para a professora das redes municipal e estadual Maria Senna do Nascimento, os profissionais das escolas públicas não estão preparados. Tanto que ela matriculou a filha de 18 anos, portadora de síndrome de Down, numa escola especial privada. “As escolas públicas têm muitos alunos por sala e nem todos professores recebem capacitação.”FALHAS A dona de casa Cleuza Aparecida, de 39 anos, e sua filha Pâmela, de 13, são outro exemplo dessa realidade.

Matriculada na 3ª série da Escola Municipal de Ensino Infantil Alexandre de Gusmão, em Guaianases (zona leste), a menina, que tem um leve retardo mental, só podia freqüentar as aulas se a mãe estivesse junto. Foi uma ordem da direção, segundo Cleuza. “Fiquei meses com a Pâmela na sala.

A professora nunca chegou perto da carteira”, conta a mãe. Sem ter concluído o ensino fundamental, Cleuza Aparecida decidiu ensinar o que sabe para a filha, na própria casa. Ela identifica cores, canta músicas em inglês, mas não sabe nem ler nem escrever. “Prova de que minha filha tem capacidade.”

A dona de casa Tereza Torres da Silva, de 39 anos, também não gostou do atendimento dado para filha Angélica, de 7 anos, na Escola Estadual Itiro Muto, no Grajaú. Decidiu tirar a menina da escola. Mesmo sem entender das discussões sobre inclusão, Tereza viu que alguma coisa estava errada. Angélica não estava na turma regular. “Ela ficava numa sala só com crianças deficientes, bem maiores do que ela. Fiquei com medo”, disse a mãe.

A nova política do Ministério da Educação propõe que os alunos portadores de deficiência estudem em salas comuns - o que tem gerado diversos protestos, manifestos e abaixo-assinados por todo o País, organizados por grupos de apoio aos portadores de deficientes.

A Secretaria Estadual da Educação informou que Angélica estava em uma sala especial provisoriamente, até que conseguisse se adaptar. Na escola, entretanto, a informação era de que crianças com necessidades especiais são matriculadas nessas turmas e a “inclusão” ocorre nos intervalos e em festas.

Na Emef João de Lima Paiva, alunos com deficiência ficam em salas comuns. Mas isso não faz da escola um bom exemplo, pois os professores faltam muito. A Secretaria Municipal de Educação justifica que na falta de professores a aula é suprida por outros educadores.

Regina Martins, professora de 3ª série da Emef Coronel Tenório de Brito (zona sul), porém, afirma que é possível fazer a inclusão de alunos deficientes na classe regular. “Dou aulas por agrupamento, mapeio as necessidades de cada aluno, mas essa didática só adquiri após 20 anos e por meio de uma capacitação. O problema é que nem todo professor é capacitado.”

Dorjival Silva - Jornalista DRT/MT 1.128, teólogo e Pedagogo. Email: dorjisilva@hotmail.com