25/06/2008

Liberdade religiosa, mito ou direito?

Por Rogério Tenório de Moura

Um dos princípios básicos da condição humana é o livre exercício de credo religioso, garantido, inclusive, pela constituição federal. O homem, enquanto ser pensante, e por conseguinte consciente da efemeridade de sal existência, ao menos terrena; lança ao além túmulo suas esperanças, agarra-se a uma religião , que em seu sentido literal significa “religar-se”, ou seja, estabelecer contato novamente com o plano espiritual e, assim, buscar alento à inquietante certeza da finitude de sua vida corpórea.

O direito de exercer a fé em uma doutrina que melhor afague nosso coração é, portanto, tão essencial quanto alimentar-nos, pois, em teoria, garante a continuidade de nossa existência em outro plano.Partindo de tal pressuposto. Exigir por força de decreto ou mesmo de assédio moral que alguém participe de um rito ou de uma celebração qualquer que tem por origem dogmas de outra religião que não a do próprio indivíduo pode ser comparado a um “estupro de consciência”, uma violação ao credo alheio.

Assim sendo, contraditoriamente ao que as escolas pregam ao defenderem a comemoração das festas juninas, que é o respeito à diversidade cultural (um dos temas transversais), a fé de diversos membros da comunidade escolar tem sido desconsiderada ano após ano, como se o fato de tais comemorações homenagearem “santos” do panteão católico não fosse um ato diametralmente oposto a tudo o que vários segmentos religiosos defendem.

As autoridades escolares, antes de optarem por oficializar uma festa de cunho religioso inserindo-a no calendário de dias letivos, deveriam levar em consideração a diversidade religiosa mundial que, como um todo, sobrepuja consideravelmente a católica; tal fato é sobremaneira inconteste que recentemente o papa Bento XVI admitiu que hoje em dia o número de muçulmanos superou o número de católicos.

Isto posto para não falarmos que somados judeus, protestantes, budistas, hindus e demais credos numericamente menos representativos aos seguidores de Maomé somos mais de quatro bilhões e meio de pessoas, mais de dois terços da população mundial.

Portanto inserir a comemoração de tal festa no calendário escolar de forma oficial é o mesmo que dizer a todos os que não compartilham desse credo que estão equivocados, que sua fé não merece respeito ou, no mínimo, é menos importante, afinal nunca vi nenhuma escola pública local comemorar o sábado sagrado judeu, o mês sagrado muçulmano nem mesmo participarem da marcha para Jesus, promovida pelas igrejas evangélicas.

Então levanto outra questão, será que o interesse das instituições escolares é realmente trabalhar a pluralidade cultural ou arrecadar dinheiro a qualquer custo, inclusive cometendo o despautério de vender bebidas alcoólicas em tais festas?

Os demais eventos supracitados só trazem despesas, já as festas juninas compensam as escolas da negligência do poder público suprindo necessidades prementes, mesmo que isso signifique desrespeitar o credo dos cidadãos e cometer a hipocrisia de vender bebida alcoólica, apesar de passarmos o ano inteiro tentando convencer aos educandos dos malefícios de tal prática.Vale ainda ressaltar que o Brasil é um Estado laico, ou seja, não possui religião oficial. Assim sendo: abaixo a ditadura da religião e do dinheiro!

02/06/2008

Ideologia dos números e lugar de fala

Por Robério Pereira Barreto

Há muito se apresentam em vários expedientes midiáticos e institucionais questões que colocam em xeque a capacidade de nossos colegas professores. Entretanto, poucos têm sido os espaços para que a categoria se expresse diante das situações complexas porque passa a maioria dos profissionais da educação de todo o país.

Em sendo leitor assíduo do diário eletrônico http://www.diariodetangara.blogspot.com/ administrado pelo pedagogo e jornalista Dorjival Silva, me deparei com mais uma dessas situações em que se sugere que a competência de ensinar está associada à competência de aprender; o que não é bem verdade, uma vez que as habilidades do profissional são fruto de muito estudo, o qual na maioria das vezes se dá por conta própria, por que o Estado não possibilita condições para que se tenha uma formação continuada de maneira coerente e prática.

Pergunta o nobre colega: os professores devem ganhar de acordo com as notas de seus alunos? E a maioria das respostas dos 64 participantes até o momento, 62% (sessenta e dois por cento) é não. Outros escolheram sim. Diante de tal quadro é importante que façamos uma reflexão séria sobre isso, pois há muitos elementos pressupostos tanto na pergunta quanto nas respostas.

Para Ducrot todo enunciado é formado por pressuposições e subentendidos cujos significados são atribuídos hic et nunc. Assim sendo, pode-se ter no estrato da pergunta uma ideologia na qual, certamente aponta para uma desqualificação da função docente diante dos números apontados pelo Sistema de Avaliação da Educação Básica – SAEB/MEC, visto que a maioria das notas atribuídas aos estudantes por meio de provas de Língua Portuguesa e Matemática é no mínimo sofrível.

Entretanto, esquecem-se os avaliadores que, em determinadas regiões do país, as escolas existem somente no planejamento das secretarias municipais e estaduais de educação para receberem as verbas do FUNDEB, todavia não há estrutura nenhuma.

Sem contar ainda com a miséria socioeconômica das famílias; que na maioria das vezes (e tenho acompanhado isso por aqui – Território de IRECÊ-BA – onde a bolsa família tem feito diferença na vida das famílias, porém não é visível na vida escolar das crianças, porque os pais pegam esse dinheiro para comprar comida e até pequenos aparelhos eletrônicos e eletrodomésticos).

Neste caso, medir o salário desse abnegado professor por meio das notas de seus alunos seria o maior aviltamento que o profissional poderia passar.

Em face disso, faz-se expressar aqui uma autocrítica ou, melhor, um reexame da questão ser professor e, sobretudo, ser aluno. Supõe-se que professor é aquele que domina certo conhecimento e por meio de metodologia e estruturas específicas se leva aos indivíduos informações para a melhoria de suas ações enquanto sujeitos de determinada comunidade – exemplo disso são os saberes transmitidos pelos povos de cultura ágrafa.

Infere-se ainda que aluno seja aquele ser capaz de ouvi os ensinamentos que lhe são passados, e com tempo, usá-los de acordo com suas necessidades individuais ou coletivas. Como se sabe, a maioria dos estudantes de nossas escolas públicas não tem estruturas sociais e intelectuais para aquisição completa do que lhe é ensinado pelos professores, mesmo que este tenha pouca estrutura intelectual.

Sendo assim, caro colega, se crer que não tenha logrado aqueles que disseram sim. Talvez sejam webleitores que estudaram em escolas particulares onde o professor é escravo planejamento e os alunos contam com estrutura família e econômica suficientemente válida para auxiliar na compreensão das informações mediadas pelo profissional da educação. Portanto estes webeleitores estão assumindo seu lugar de fala em detrimento da realidade da maioria da população brasileira.

Para refletir: estamos num contexto educacional em que a avaliação por meio de mensurações do conhecimento do estudante por meio de provas e outros mecanismos mecânicos de controle do saber têm sido duramente criticados. Portanto, o profissional da educação tem que receber seus salários de acordo com suas qualificações, as quais deveriam ser ofertadas pelo Estado por meio de curso qualificação sério.

Robério Pereira Barreto - professor universitário na Bahia, Escritor e Poeta.