A palavra perdão bem que tinha, e, acredito que ainda tenha, algum significado coerente com a ética social. Ela se alia ao sentimento de arrependimento, ao recuo de um comportamento que possa ser considerado inefável, inócuo, incrédulo, insípido, inconseqüente..., coisas desse tipo. Prova disso, aliás, é que ela foi dita por Jesus Cristo num momento dos mais sagrados da bíblia: “Pai, perdoai-os, eles não sabem o que dizem”.
A razão da palavra parece estar perdendo o seu conteúdo, está sendo usada como se fosse uma moeda de troca: se vos perdôo, por que não me perdoas? Não é, e não pode ser bem assim. O fato é que ela está sendo dita a esmo, em controvérsia com o seu sentido maior: a humildade.
Um dos fatos – senão o maior deles – mais recente e mais picante, trata-se do escândalo da roubalheira dos “Arrudas”, categoricamente exibido pela mídia em todo o Brasil. Por conta do ridículo que mais uma vez deixou o país estarrecido, os protagonistas vêm tentando descaracterizar as falcatruas num pedido de perdão. E o que é pior, se fazendo de vítimas.
A hipocrisia perdeu sua hombridade, além de insinuar-se arrogante e sem limites. Não bastasse o escândalo, uma comissão para apurar a desonra do pais foi constituída, contendo, na sua maioria, os aliados do Arruda. E tem mais: o seu presidente ou relator é o parlamentar que escondia o dinheiro roubado nas meias. Conforme o jornal “Bom dia Brasil”, do dia 12/01/2010, da rede Globo, o senhor Arruda não se ausenta do cargo para as devidas apurações da roubalheira, em função dos exemplos deixados pelo Presidente do Senado, José Sarney e pelo Renã Calheiros.
Diante da cara-de-pau dos protagonistas, enquanto a justiça nada pode fazer, se é que ela vai se interessar em fazer alguma coisa, a frase do inesquecível Vinicius de Morais nos cai muito bem: “Agente vai levando, agente vai levando, agente vai levando...”.
O conceito da ética na sociedade precisa ser respeitado. O direito, em se tratando de justiça é, e acredito que continuará sendo, a válvula mestre da coerência da cidadania, ele é o pilar incondicional de sustentação da dignidade humana. Caso ele perca o sentido, onde é que o povo vai se apegar, se amparar e se espelhar na construção educacional de seus filhos? A partir do momento em que ela – a ética - deixa de existir, a própria justiça também perde a razão de ser, uma vez que a moral do cidadão fica abalada, desmotivada e, mais do que isso, sua moral torna-se insignificante.
Citando ainda as imagens que caracterizaram as roubalheiras dos “Arrudas”, o que mais incomoda a sociedade brasileira, é o comodismo das autoridades que se fazem de cegos, parecem esperar que a poeira passe, que o povo esqueça. .
Que país é esse? Onde está a sua vergonha? Nomeações ilícitas, discriminações e injustiças sociais, instituições que não se justificam por si só, que não se explicam, servem apenas para abanar os deleites dos abutres de colarinhos brancos. Está na hora desses bandidos respeitarem a dignidade e a soberania da memória política de governantes como JK, Getúlio Vargas, Tancredo Neves, dentre tantos nomes honrados.
Enquanto isso, na sala de justiça, os “Arrudas” caminham pra lá e pra cá, sem serem molestados e, talvez, quem sabe, o povo os vejam na avenida Sapucaí, no Rio de Janeiro, de “teclados abertos”, gastando um pouco do dinheiro público, assistindo ao desfile de uma escola de samba, como se nada tivesse acontecido.
Mas afinal, quando, e qual vai ser o próximo escândalo dos políticos do Brasil? Quem viver, verá.
Gilson Nunes é jornalista