20/07/2009

Existe esperança para o conflito entre judeus e árabes?

Encontro-me em viagem de férias no Rio de Janeiro, oportunidade quando sempre tenho contato com a cultura judaica. E não existe como falar em judaísmo brasileiro contemporâneo sem citar o rabino escritor e palestrante Nilton Bonder, autor de 18 livros, um dos quais foi adaptado ao teatro, atualmente em cartaz na capital fluminense.

O ultimo titulo deste ícone da teologia brasileira chama-se Tirando os Sapatos: O caminho de Abraão, um caminho para o outro – Editora Rocco. Neste trabalho, o autor relata detalhes de uma viagem que realizou reproduzindo a trajetória do patriarca Abraão, tido como uma grande personagem de ambas as três religiões monoteístas, percorrido em companhia de um sheik islâmico e de um padre católico, alem de grande equipe de apoio, incluindo pesquisadores da Universidade de Harvard.

Muito alem de uma mera descrição turística dos locais visitados, Bonder detalha sua viagem interna, que ele percorreu reproduzindo a viagem interior do patriarca. Neste intento, compara as crenças aos sapatos que nos servem para aliviar os sofrimentos da caminhada. Reconhece a importância destes calcados, mas adverte sobre os riscos de nos recusar a retirá-los de vez em quando para experimentarmos a sensação do solo per se, e tentar compreender o ponto de vista do outro, não apenas de forma diplomática, mas permitindo que a verdade do outro seja reconhecida como real, pelo menos para o dono da sua crida verdade.

A proposta do escritor não consiste em questionar o valor dos sapatos, muito menos de dizer que precisamos usar os do outro. Antes disso, simplesmente mostrar que a fé não deve ser objeto de distanciamento entre as pessoas, da mesma forma que o sapato não deve tomar a importância do caminho a ser trilhado, sob o risco de nos transformarmos em idolatras de sapatos, esquecendo-nos do Deus que nos permite a graça de realizar a caminhada.

O convite divino a Moises para retirar os sapatos, por estar em terra santa e a inspiração do autor, que considera igualmente sagrada a consciência do outro. Admite em entrevista televisionada (disponível no Youtube), que o desafio seja gigantesco. Acredita que a maioria de nos sempre vai preferir acreditar que o solo tem a temperatura, a maciez e o formato que nossos próprios sapatos produziram ao longo dos anos em contato com nossos pés.

O resultado disso será a convicção intolerante de que estamos sempre corretos, e que os outros sempre errados. Que nossas crenças são sempre coerentes e que as do outro, equivocadas. Há quem diga que a solução do conflito entre judeus e árabes esteja no reconhecimento por Israel do Estado Palestino.

Em suas afirmativas, no entanto, Bonder sugere que o caminho da paz seja o mesmo que foi percorrido por Abraão (ou Ibrahim para os muçulmanos), pai de duas famílias, que viajou para dentro de si mesmo e construiu uma historia de aceitação, de exemplo, de fé e renuncia dos próprios planos em preferência aos projetos divinos de altruísmo e paz.

Renato Gama Medico e acadêmico de teologia

09/07/2009

Reeleição não faz bem à democracia nem à ética

POR MARCOS CINTRA

SEMPRE COMBATI a possibilidade de segundos mandatos consecutivos para os cargos Executivos. Se em outros países a reeleição funciona bem, o mesmo não se aplica ao Brasil. Nossas raízes históricas e culturais deveriam nos alertar contra qualquer tentativa de continuidade de poder.

O caudilhismo latino-americano é uma ameaça sempre presente em nossas instituições políticas, associativas e até recreativas. A tentação para mandatos sucessivos é irresistível, sobretudo em países como o Brasil, onde predomina o populismo e que conta com uma massa de eleitores com baixo nível de instrução e cultura participativa incipiente.

A aprovação do segundo mandato, que rompeu com uma das mais sólidas e duradouras tradições republicanas, foi um desserviço ao país. Foi aberta a porteira, e sabe-se que, "por onde passa um boi, passa a boiada". Agora começamos a pagar a conta dessa insensatez ao nos defrontarmos com a possibilidade de um terceiro mandato para Lula.

Não há justificativas para a continuidade de mandatos. Se o governo é bem-sucedido, que ele tenha prosseguimento com a eleição de candidatos governistas. É preciso evitar a personalização do sucesso, pois, em questões de governo, isso é sempre uma conquista coletiva, por maior que seja o carisma e a liderança do chefe.

No Brasil de Lula, isso é particularmente verdadeiro se verificarmos que o núcleo do sucesso dessa administração está exatamente na continuidade que foi dada às políticas econômicas e sociais responsáveis e consistentes iniciadas em gestões anteriores. Em vários aspectos pode ter havido aperfeiçoamentos e mudanças de ênfase, mas não houve milagres no Brasil dos últimos anos, somente o amadurecimento das ações públicas e da sociedade.

Um corolário da premissa de que um mandato é sempre suficiente é que a política não deve ser profissionalizada. Em outras palavras, quando políticos tornam-se profissionais, os riscos de que eles adquiram vícios ligados ao exercício do poder se tornam enormes. Uma pessoa que abandona sua atividade de formação e se torna um profissional na vida pública passa a depender das sucessivas reeleições para viver. Assim, torna-se capaz de tudo e de qualquer coisa para se eleger.

Só assim essas pessoas sobrevivem política e economicamente. Aí está a origem do populismo, das negociatas, dos acordos financeiros, do tráfico de influência, das nebulosas razões dos financiamentos de campanha e da corrupção. Não é possível negar que há indivíduos vocacionados para a atividade pública nem que existam políticos sérios e bem-intencionados.

Mas essas pessoas poderiam continuar sendo úteis à sociedade mesmo com o instituto do mandato único. Nada impede que participem de pleitos eleitorais sucessivos, mas em cargos diferentes, de forma a evitar a lassidão de princípios e de comportamentos que a permanência duradoura no poder quase sempre produz.

A reeleição não faz bem à democracia presidencialista. Nem a primeira e muito menos outras seguintes. Por essas razões é que defendo apenas um mandato. Mas não apenas no Executivo. Defendo o fim de reeleições em todos os Poderes, inclusive no Legislativo e no Judiciário. Mandatos vitalícios e parlamentares que permanecem interminavelmente em suas cadeiras legislativas precisam ser urgentemente questionados. Afinal, por que uma pessoa precisaria de décadas para trazer sua contribuição à sociedade?

O descalabro dos atos secretos no Senado, além da enxurrada de escândalos que abalaram a credibilidade do Congresso Nacional nos últimos anos, atestam essa urgente necessidade. Mandatos sucessivos fazem nossos parlamentares sentirem-se confortáveis demais em suas cadeiras, confiantes demais na impunidade que o poder ainda concede a detentores de cargos públicos no Brasil. De imediato, há que limitar as reeleições no Poder Legislativo e começar a pensar em acabar com a reeleição no Executivo.


MARCOS CINTRA 63, doutor em economia pela Universidade Harvard (EUA), professor titular e vice-presidente da Fundação Getulio Vargas, é secretário municipal do Trabalho de São Paulo.

07/07/2009

Transparência levanta custo do parlamentar no BR

Esse montante coloca os congressistas do Brasil como os mais bem pagos de todo o grupo, excetuando-se os deputados dos Estados Unidos. Estes recebem cerca de três milhões de reais. Porém, quando se faz a correção pelo indicador da renda "per capita", os benefícios do congressista brasileiro ultrapassam os do deputado norte-americano e chegam ao topo da escala.

No Brasil, o deputado e o senador recebem mais do que um deputado alemão, que perfaz 860 mil reais, francês, na casa dos 770 mil, ou britânico, que recebe o equivalente a 760 mil reais. Quando se faz a correção pelo indicador da renda "per capita", os benefícios do congressista brasileiro ultrapassam os do deputado norte-americano e chegam ao topo da escala. Segundo a Transparência Brasil, os montantes a que um senador brasileiro tem direito representam 83 vezes o Produto Interno Bruto (PIB) "per capita" do Brasil.

Isso quer dizer que, em média, um único senador se apropria de uma quantia equivalente à riqueza produzida por 83 brasileiros. No caso do deputado federal brasileiro, ele ganha 68 vezes o mesmo índice individual. O deputado norte-americano se apropria de um montante equivalente a 32 vezes o PIB "per capita" dos Estados Unidos. Roberto Guedes