05/12/2007

Péssimo em leitura, ruim em matemática

Por Dorjival Silva


Desempenho no Pisa coloca Brasil no nível 1 de aprendizagem numa escala que varia de 1 a 6

O Brasil piorou seu desempenho em leitura, mas foi um dos países que mais melhoraram em matemática no Programa de Avaliação Internacional de Estudantes (Pisa), de 2006.

O exame, considerado o mais importante do mundo em educação, é realizado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) a cada três anos. Cerca de 400 mil alunos de 15 anos, de 57 países, fizeram a última prova. Os resultados foram divulgados ontem em Bruxelas - na semana passada, a entidade havia liberado apenas dados preliminares do exame de ciência.

A pontuação dos alunos brasileiros ficou em 393 e 370, em leitura e matemática, respectivamente. A nota máxima registrada no Pisa foi de 707,9. Esse desempenho faz com que o País não conseguisse passar do nível 1 de aprendizagem - numa escala que varia de 1 a 6, sendo 1 o pior - em nenhuma das três áreas.

Isso quer dizer que os alunos conseguem apenas localizar informações explícitas e não são capazes de fazer comparações, estabelecer conexões ou interpretar textos. Em matemática, eles não podem sequer resolver problemas simples.Por causa disso, mesmo com a melhora, o Brasil ainda está entre os piores do mundo em matemática.

O ranking mostra os brasileiros na 54ª posição, atrás dos cinco outros países latinos que participaram da prova e melhor apenas que Tunísia, Catar e Quirguistão. Em leitura, o País tem a melhor colocação das três áreas avaliadas, ficando na 49ª posição. Nossos estudantes superaram os da Argentina e da Colômbia.

O ranking de ciência mostra o Brasil em 52º lugar. A campeã do Pisa, assim como ocorreu em 2000 e em 2003, é a Finlândia. A nação escandinava é a primeira colocada no ranking de ciência e a segunda em leitura e em matemática. Os países vencedores dessas duas listas, Coréia e Taiwan, respectivamente, aparecem abaixo da 10ª colocação nos outros rankings. A relação inclui países membros da OCDE e convidados (como o Brasil). Eles representam 90% da economia mundial.

Não há nações africanas ou da América Central, por exemplo. ¨Qualidade não cai do céu. É algo que exigirá muito esforço do País por muito tempo. Sabemos o que nos separa do mundo desenvolvido¨, disse ontem o ministro da Educação, Fernando Haddad. Pela primeira vez, foram divulgados também os resultados do Pisa por estado brasileiro. No Brasil, 9.295 alunos de escolas públicas e particulares fizeram a prova em 2006.

Espaço para crescer

A melhora do Brasil em matemática é destacada no relatório do Pisa. Foram 13 pontos de diferença com relação a 2003; só México, Indonésia e Grécia avançaram mais.

Quem elevou a nota do País foram os estudantes que estavam nos piores níveis de aprendizagem e que melhoraram desde 2003. ¨São eles que tinham mais espaço para crescer e isso é importante que tenha acontecido¨, diz o especialista em avaliação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) José Francisco Soares.

Para o presidente da Sociedade Brasileira de Matemática, João Lucas Marques Barbosa, o resultado pode estar relacionado à proliferação das olimpíadas de matemática pelo País. Há três anos, foi criada uma competição nacional para estudantes de escolas públicas. ¨Esses eventos descobrem talentos e mudam a idéia de que matemática é um bicho-papão, principalmente entre as crianças mais pobres¨, diz Barbosa.

Para ele, efeitos maiores serão sentidos em cerca de dez anos. Em leitura, ocorreu o oposto que em matemática. Os melhores alunos do País aumentaram suas notas em 23 pontos, enquanto os que já eram ruins caíram em mais de 30 pontos. O exame de leitura da OCDE analisa não só a habilidade de ler e escrever, mas também de interpretar textos, usar a escrita em situações cotidianas, opinar.

Uma das questões falava sobre grafite e o estudante deveria dizer o que achava do texto, comentar seu estilo e analisar. ¨Nosso resultado é um reflexo da falta do professor-leitor¨, diz a professora da rede pública do Rio e doutoranda da Universidade de Brasília (UnB) Zóia Preste. Segundo números do Ministério da Educação (MEC), só 26% das escolas brasileiras têm bibliotecas.

O Pisa foi aplicado em todos os países entre março e novembro do ano passado. Foram duas horas de prova, com mais de 40% das questões dissertativas. Além das provas, os adolescentes respondem a questionários socioeconômicos e os diretores descrevem a estrutura da escola. Os países podem optar por participar com todos os seus alunos ou, como o Brasil, utilizar uma amostra do total.

Segundo a OCDE, os 400 mil que fizeram o exame representam 20 milhões de alunos no mundo. Pela primeira vez, o Pisa fechou um ciclo, o que fortalece as informações estatísticas e permite comparações. Isso porque a cada ano o exame foca em uma das áreas - em 2000, o foco foi leitura; em 2003, matemática; e, em 2006, em ciências. O exame de 2009 voltará a enfatizar leitura, o que significa que haverá mais perguntas e que os resultados serão mais detalhados nessa área.

Exemplo

¨O Brasil é um exemplo para outros países, porque vem melhorando seus resultados¨, disse Andreas Schleicher, que é diretor da divisão de indicadores e análise da diretoria de educação da OCDE. ¨Trata-se de um dos poucos países que apresentou avanços nas provas de leitura e matemática.¨

Para ele, o governo brasileiro foi ¨corajoso¨ ao se juntar ao rol de países avaliados pelo Pisa. ¨Os brasileiros estão sendo comparados lado a lado com vários países mais desenvolvidos¨, diz. ¨Em vez de dizer que se trata de uma avaliação injusta, ser comparado com o Japão, por exemplo, o Brasil adotou um a postura pragmática ao afirmar - ´ora, estamos competindo globalmente´.¨Schleicher elogiou o fato de o governo ter criado um sistema nacional de avaliação e os esforços para matricular um maior número de crianças nas escolas.

O pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Sergei Soares também foi otimista. ¨Só o fato de não ter caído já é um bom resultado, porque o Brasil incluiu um número muito grande de alunos nos últimos anos¨, diz. Hoje, o País tem quase 100% dos alunos de 7 a 14 anos na escola. Um dos desempenhos que chamaram atenção dos educadores brasileiros é o do Chile, que vinha implementando mudanças em seus sistema educacional, mas não havia melhorado em rankings internacionais até então.

Neste ano, o Chile aparece como o melhor país da América Latina nas três áreas do Pisa. Em leitura, está dez posições acima do Brasil. ¨Não temos muito o que aprender com Taiwan ou Hong Kong, que têm educação com base em muita competição, e sim com o Chile, que aumentou seus investimentos na área e ampliou o tempo dos alunos nas escolas¨, diz Soares, da UFMG.

Sergipe bate São Paulo em avaliação internacional

Estado mais rico do País, São Paulo não consegue refletir seu poderio econômico na educação. Os resultados do Programa Internacional de Avaliação por Aluno (Pisa) de 2006, divulgados pelo Ministério da Educação (MEC), mostram o Estado com médias piores do que as nacionais em leitura e ciências, e igual à média brasileira em matemática. Mais do que isso, São Paulo perde para Estados mais pobres, como Paraíba e Sergipe. Reunindo, sozinho, cerca de 20% dos alunos do País, a média paulista, na verdade, chega a puxar para baixo a média nacional, acusa o MEC.

¨Era de se esperar que as médias de São Paulo ajudassem a puxar os resultados brasileiros para cima, mas não foi o que aconteceu¨, disse o ministro da Educação, Fernando Haddad. ¨Se é verdade que os Estados mais ricos deveriam ter um desempenho melhor, há exceções. Há Estados pobres com resultados melhores que os ricos¨. Em São Paulo, fizeram o Pisa 1.067 estudantes, o equivalente a 11% da amostra nacional.

Mas, na conta final da média nacional, o peso de um aluno paulista é maior do que de todos os outros Estados, justamente porque a amostra representa 20% de todos os estudantes da educação básica no País. Com um dos menores Produtos Internos Brutos do Brasil - 0,7% do PIB nacional, contra os 30,9% de São Paulo - o Estado de Sergipe ganhou fácil nas três áreas do Pisa. Em ciências, fez 402 pontos contra 385 de São Paulo. Em matemática, 385 contra 370 dos alunos paulistas. E em leitura, 408 contra 392. São Paulo gasta por ano, em média, R$ 600 a mais por aluno da educação básica que Sergipe.

Margens de erro

A secretária estadual de São Paulo, Maria Helena Guimarães de Castro, rejeita a idéia que de o Estado fez com que o Brasil se saísse mal no Pisa. Segundo ela, a proporção de alunos paulistas não bastaria para definir a nota brasileira. Além disso, ela estranhou as margens de erro dos resultados, que são bem superiores em outros Estados, se comparadas às de São Paulo.“Quanto menos alunos fazem a prova maior a margem de erro”, diz Maria Helena, que foi presidente do Instituto Nacional de Pesquisas e Estudos Educacionais do MEC (Inep) quando o Brasil fez o primeiro Pisa, em 2000.

A secretária é especialista em avaliação e foi quem decidiu, no fim dos anos 90, a participação do País no exame da OCDE. As margens de erro dos resultados paulistas não passam de 6,2, enquanto no Distrito Federal, chegam a 20,8. Sergipe teve margem de erro que variou de 14 a 16 pontos. Maria Helena, no entanto, reconhece que o Estado precisa melhorar. “O grande desafio de São Paulo é a melhoria da qualidade”, disse.

O MEC não se arrisca a fazer uma avaliação sobre os resultados paulistas, mas o atual presidente do Inep, Reynaldo Fernandes, lembra que o Estado também não está nos primeiros lugares no Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb). Em 2005, o Estado apareceu em 7º lugar em português e 10º em matemática na avaliação da 8ª série - equivalente ao Pisa, que faz a prova com estudantes de 15 anos. Campeão nacionalPrimeiro lugar nas três áreas avaliadas, o Distrito Federal, tem médias acima de 400 pontos.

Ainda sim, não passaria da 40ª posição entre 57 países. Sua melhor pontuação, em ciências, o levaria a ficar um pouco acima do Chile e abaixo de Israel. Ainda assim, o DF está muito a frente do Maranhão, o último colocado na lista. Em matemática, a média maranhense é 100 pontos abaixo da nacional. Em português, não alcança os 300 pontos. Se fosse país, o Maranhão perderia com alguma folga para o Quirguistão, último colocado em todas as três áreas.

Dorjival Silva - Jornalista DRT/MT 1.128, teólogo e Pedagogo. Email: dorjisilva@hotmail.com com informações da Agência Estado e o Estado de S.Paulo

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