O relatório divulgado pelo Inpe em outubro, referente ao período de junho a setembro de 2007, denunciava um aumento de 8% no desmatamento em relação ao mesmo período de 2006. Uma revisão dos dados, entretanto, mostra que a derrubada foi muito menor do que o anunciado.
Em agosto e setembro, ocorreu o inverso: o desmatamento caiu cerca de 26% (veja os números na tabela ao lado).O diretor do Inpe, Gilberto Câmara, reconheceu que os números foram superestimados.
Ele atribuiu o erro a uma falha no programa que analisa as imagens de satélite do sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real (Deter). O sistema foi programado para detectar só novos desmatamentos, mas várias áreas previamente desmatadas foram contadas mais de uma vez, produzindo números inflados.
Os dados não caíram bem para Rondônia, Mato Grosso e Pará, que apareceram como grandes destruidores da floresta, justamente no momento em que o País vivia a expectativa de um terceiro ano de redução no desmatamento. “O Inpe tem que ter mais responsabilidade no que faz”, disse o governador de Rondônia, Ivo Cassol (sem partido). “Quero ver todos os dados.”O de Mato Grosso, Blairo Maggi (PR), também cobrou explicações: “Será que pode ter havido também diferença em anos anteriores?
Acho que o correto é rever tudo.” Maggi disse que ficou “muito desconfortável” com a divulgação dos números que mostravam um crescimento nas áreas desmatadas no Estado. “Todos os indicativos que tínhamos apontavam numa direção oposta.”A decisão dos prefeitos de 19 cidades de Mato Grosso que constam da lista de 36 maiores desmatadoras do País, segundo os dados do Inpe, será acertada em uma reunião amanhã, em Cuiabá.
O presidente da Associação Mato-Grossense dos Municípios, José Aparecido dos Santos, disse que a imagem do Estado foi prejudicada pelos dados incorretos, podendo prejudicar negócios com outros países para a exportação de produtos agrícolas. “Os prefeitos têm de saber se de fato ocorreu todo esse desmatamento em seus municípios para tomarmos providências.”
REVISÃO CONSTANTE
Procurado ontem pelo Estado, Câmara disse que o Inpe “não vai polemizar com os governadores” porque é um órgão técnico, e não político. “O Inpe revisa constantemente todos os dados e, se houver necessidade de fazer alguma modificação, isso será feito”, disse. “Do ponto de vista do Inpe, o que tinha que ser feito para 2007 foi feito.
Nossa preocupação agora é produzir os melhores dados possíveis para 2008. Temos que olhar para frente; o que passou, passou.”O relatório mais recente do Deter foi divulgado na semana passada, em Brasília, com dados referentes ao período de agosto a dezembro de 2007 - sem fazer uma comparação com os mesmos meses de 2006.
Os números mostram um aumento significativo - e inesperado - do desmatamento nos meses de novembro e dezembro, quando as atividades predatórias normalmente diminuem.Câmara garante que os números são confiáveis. O Inpe, que pertence ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), é responsável pelo monitoramento remoto da Amazônia desde 1988.
É com base em seus dados que o Ministério do Meio Ambiente (MMA) e outros órgãos federais planejam ações na região.O secretário-executivo do MMA, João Paulo Capobianco, defendeu o trabalho do instituto. “Não podemos agora querer transformar uma exceção em regra.” A falha nos dados refere-se apenas ao Deter e não ao Prodes, o programa que produz as estatísticas anuais de desmate.
DOIS SISTEMAS
Prodes ( Programa de Cálculo do Desflorestamento na Amazônia) - Produz as taxas anuais de desmatamento. Usa imagens de satélites que enxergam áreas pequenas, com melhor resolução, mas que passam com menos freqüência sobre a AmazôniaDeter ( Detecção do Desmatamento em Tempo Real) - Usado para fiscalização.
As imagens detectam apenas áreas desmatadas maiores do que 25 hectares, mas, em compensação, os satélites passam diariamente pela região.
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