02/06/2008

Ideologia dos números e lugar de fala

Por Robério Pereira Barreto

Há muito se apresentam em vários expedientes midiáticos e institucionais questões que colocam em xeque a capacidade de nossos colegas professores. Entretanto, poucos têm sido os espaços para que a categoria se expresse diante das situações complexas porque passa a maioria dos profissionais da educação de todo o país.

Em sendo leitor assíduo do diário eletrônico http://www.diariodetangara.blogspot.com/ administrado pelo pedagogo e jornalista Dorjival Silva, me deparei com mais uma dessas situações em que se sugere que a competência de ensinar está associada à competência de aprender; o que não é bem verdade, uma vez que as habilidades do profissional são fruto de muito estudo, o qual na maioria das vezes se dá por conta própria, por que o Estado não possibilita condições para que se tenha uma formação continuada de maneira coerente e prática.

Pergunta o nobre colega: os professores devem ganhar de acordo com as notas de seus alunos? E a maioria das respostas dos 64 participantes até o momento, 62% (sessenta e dois por cento) é não. Outros escolheram sim. Diante de tal quadro é importante que façamos uma reflexão séria sobre isso, pois há muitos elementos pressupostos tanto na pergunta quanto nas respostas.

Para Ducrot todo enunciado é formado por pressuposições e subentendidos cujos significados são atribuídos hic et nunc. Assim sendo, pode-se ter no estrato da pergunta uma ideologia na qual, certamente aponta para uma desqualificação da função docente diante dos números apontados pelo Sistema de Avaliação da Educação Básica – SAEB/MEC, visto que a maioria das notas atribuídas aos estudantes por meio de provas de Língua Portuguesa e Matemática é no mínimo sofrível.

Entretanto, esquecem-se os avaliadores que, em determinadas regiões do país, as escolas existem somente no planejamento das secretarias municipais e estaduais de educação para receberem as verbas do FUNDEB, todavia não há estrutura nenhuma.

Sem contar ainda com a miséria socioeconômica das famílias; que na maioria das vezes (e tenho acompanhado isso por aqui – Território de IRECÊ-BA – onde a bolsa família tem feito diferença na vida das famílias, porém não é visível na vida escolar das crianças, porque os pais pegam esse dinheiro para comprar comida e até pequenos aparelhos eletrônicos e eletrodomésticos).

Neste caso, medir o salário desse abnegado professor por meio das notas de seus alunos seria o maior aviltamento que o profissional poderia passar.

Em face disso, faz-se expressar aqui uma autocrítica ou, melhor, um reexame da questão ser professor e, sobretudo, ser aluno. Supõe-se que professor é aquele que domina certo conhecimento e por meio de metodologia e estruturas específicas se leva aos indivíduos informações para a melhoria de suas ações enquanto sujeitos de determinada comunidade – exemplo disso são os saberes transmitidos pelos povos de cultura ágrafa.

Infere-se ainda que aluno seja aquele ser capaz de ouvi os ensinamentos que lhe são passados, e com tempo, usá-los de acordo com suas necessidades individuais ou coletivas. Como se sabe, a maioria dos estudantes de nossas escolas públicas não tem estruturas sociais e intelectuais para aquisição completa do que lhe é ensinado pelos professores, mesmo que este tenha pouca estrutura intelectual.

Sendo assim, caro colega, se crer que não tenha logrado aqueles que disseram sim. Talvez sejam webleitores que estudaram em escolas particulares onde o professor é escravo planejamento e os alunos contam com estrutura família e econômica suficientemente válida para auxiliar na compreensão das informações mediadas pelo profissional da educação. Portanto estes webeleitores estão assumindo seu lugar de fala em detrimento da realidade da maioria da população brasileira.

Para refletir: estamos num contexto educacional em que a avaliação por meio de mensurações do conhecimento do estudante por meio de provas e outros mecanismos mecânicos de controle do saber têm sido duramente criticados. Portanto, o profissional da educação tem que receber seus salários de acordo com suas qualificações, as quais deveriam ser ofertadas pelo Estado por meio de curso qualificação sério.

Robério Pereira Barreto - professor universitário na Bahia, Escritor e Poeta.

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